Heinze aposta na retomada de projeto binacional com a participação da iniciativa privada.

Um projeto importante para o desenvolvimento da hidrovia na Lagoa Mirim, beneficiando o Brasil, especialmente o Rio Grande do Sul, e o Uruguai, está sendo ressuscitado pelo senador Luis Carlos Heinze (PP/RS), que nesta última quinta-feira, 10 de fevereiro, esteve na cidade do Rio Grande para falar sobre a iniciativa.

O evento, promovido pelo Sindilojas e Associação Comercial dos Varejistas do Rio Grande, presididos respectivamente por Cleber Jacobs e Ana Paula Valério, aconteceu durante almoço no Restaurante Marcos, situado no Hotel Laghetto, e foi prestigiado por lideranças políticas e empresariais do município. Também estiveram presentes o prefeito do Capão do Leão, Vilmar Schmitt; o deputado estadual Marcus Vinícius Vieira de Almeida; o presidente da DTA Engenharia, de São Paulo, especializada em portos e hidrovias, João Acácio Gomes de Oliveira Neto e o empresário uruguaio Arturo Besson, da empresa Terminal Taquari.

Os presentes abordaram, ainda, os altos custos das tarifas de pedágio na região e a necessidade da ligação a seco com São José do Norte, oportunidade em que o presidente do Sinduscon Rio Grande, Airton Viñas, prontificou-se a encaminhar maiores dados sobre o projeto ao Senador Luis Carlos Heinze.

“Projeto é muito importante para o Uruguai e o porto do Rio Grande”

O parlamentar gaúcho lembrou que a exploração da Lagoa Mirim conjuntamente pelos dois países havia sido formalizada em 1961, quando era presidente João Goulart. Só que de lá para cá, o projeto estava adormecido, até que o senador do Partido Progressista (PP) encontrou-se com empresários e lideranças brasileiras e uruguaias e diz que encontrou uma grande receptividade, especialmente na Embaixada do vizinho país. No lado brasileiro, ele vem mantendo diversos contatos, inclusive com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas e acredita que este é um projeto ainda para 2022. Falou que está assessorado por técnicos de capacidade reconhecida em assuntos ligados às hidrovias, como o rio-grandino João Ivo Souza, que mostra-se entusiasmado com a retomada desse projeto.

O representante gaúcho no Senado Federal salientou que “o Uruguai tem interesse em utilizar a Lagoa Mirim a partir do porto de Taquari. A região norte e nordeste, com cerca de 1 milhão de hectares, é a mais pobre do vizinho país e, de lá, pode ser movimentada a produção deles até o porto do Rio Grande, que fica a 300 quilômetros: arroz, pecuária, madeira, milho, soja, sorgo. Interessa muito a eles a indústria de calcário, na região de Caçapava do Sul e existe em Trinta y Tres uma grande empresa de cimento que cogita vender parte de sua produção na região de Montenegro. O projeto da Lagoa Mirim não é caro e é muito importante para o Uruguai e o porto do Rio Grande. E com a estiagem que estamos enfrentando no Rio Grande do Sul, quem sabe o sorgo e o milho deles possam compensar nosso déficit?”.

Informou que os estudos já se encontram na fase final. O próximo passo será a abertura de processo licitatório, pois a intenção é formar uma parceria com a iniciativa privada e criar na Lagoa Mirim a primeira hidrovia pedagiada do Brasil. Observou que “uma coisa puxa a outra”. Ou seja, a partir da movimentação da hidrovia na Lagoa Mirim o turismo poderá ser melhor explorado e também a reativação do projeto que a Votorantim tinha para a região, inclusive com a instalação de uma planta de celulose.

Luis Carlos Heinze lembrou de uma reunião sobre o assunto com arrozeiros de Santa Vitória do Palmar, Arroio Grande e Jaguarão que manifestaram preocupação com a dragagem no canal São Gonçalo. A preocupação deles era com a possibilidade de diminuir o nível da água na Lagoa Mirim e comprometer o plantio do arroz, mas ele garante que não há motivo de preocupação e que essa possibilidade está descartada.  

O advogado Nelson Nascimento aproveitou a oportunidade para sugerir que a reativação da hidrovia poderia possibilitar a navegação até a cidade de Estrela: “Seria um transporte mais barato e desafogaria nossas rodovias”.

Licitação para a hidrovia

O engenheiro paulista João Acácio de Oliveira Neto, que possui uma empresa voltada para dragagem e atividades portuárias, estranhou que na região “temos duas BRs nos lados da Lagoa dos Patos e a via natural, que é a hidrovia, pouco utilizada”.  Destacou a quantidade de água doce existente no Rio Grande do Sul, na Lagoa dos Patos e Lagoa Mirim, “um verdadeiro mar de dentro e pouco se utiliza da hidrovia”. Lembrou que no passado a navegação era bastante ativa nas lagoas, nos rios Ibicuí, Jacuí e Taquari, inclusive com transporte de passageiros na Lagoa dos Patos.

O presidente da DTA Engenharia, considerada a maior empresa de dragagem portuária do Brasil, salientou o interesse do governo uruguaio em movimentar as regiões norte e nordeste do país vizinho, “que mostram-se subdesenvolvidas por falta de logística. O Embaixador do Uruguai já demonstrou grande interesse nessa iniciativa e em breve deveremos nos encontrar com o presidente daquele país”.

Segundo ele, o Brasil precisa dragar a Lagoa Mirim, que é um custo insignificante diante da importância do projeto. “Nosso pessoal técnico já fez toda a batimetria. Vamos fazer em seis meses o que não se fez em 60 anos e estou engajado nesse desafio. Em março doaremos o projeto concluído. Será uma grande oportunidade para fazermos a primeira hidrovia pedagiada do Brasil, com 250km, desde Santa Vitória do Palmar até Rio Grande.  Pode trazer cerca de cinco milhões de toneladas de carga e aumentar o potencial do porto local em 20%. Não ficaremos mais naquela situação ‘não tem carga, porque não tem hidrovia; não tem hidrovia, porque não tem carga. O Governo Federal fará a licitação e a intenção é ver a Lagoa Mirim transformada numa hidrovia”.

Oliveira Neto destacou que a ponte ferroviária elevatória sob o canal São Gonçalo, entre Rio Grande e Pelotas, foi reinaugurada: “Está subindo e descendo quatro vezes ao dia”. E não vê problema com a eclusa, demonstrando otimismo com a transformação do projeto binacional para aproveitamento da Lagoa Mirim em realidade.       

Sinduscon encaminhará dados sobre a importância da ligação a seco com SJN

O presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Rio Grande, Airton Viñas, disse na reunião que o Sinduscon também apoia a ligação a seco entre Rio Grande e São José do Norte.

O assunto foi levantado pelo secretário municipal de Transportes da vizinha cidade, Luis Escobar, que solicitou apoio do senador Luis Carlos Heinze para este projeto, um antigo sonho das comunidades nortense e rio-grandina.

Escobar justificou essa necessidade devido aos problemas existentes na travessia entre as duas cidades há muito tempo e que parecem sem solução. Citou como exemplo a travessia da balsa, que custa R$ 40 por veículo, e só tem uma embarcação operando, porque a outra encontra-se em reparos. O último horário da balsa, do Rio Grande à São José do Norte e às 16 horas, enquanto no sentido inverso é às 17 horas. “Vai chegar o momento que um caminhão vai ficar dias na fila e nosso desenvolvimento não chega”. Ele observa que a travessia de passageiros também tem problemas e que a última lancha é às 23 horas. “Se acontecer uma emergência na madrugada, como fica?”.

O representante da Prefeitura nortense salientou que o estaleiro EBR, o único em atividade na região, prevê o desenvolvimento de uma série de projetos que poderá gerar até oito mil empregos e vê a travessia como um problema: “Muitos trabalhadores residem em Rio Grande e dependem do transporte entre as duas cidades”. Falou, ainda, que com a ligação a seco outros projetos de desenvolvimento poderão se concretizar em São José do Norte, como o polo madeireiro de pinus. “Temos madeira para ser extraída por 40 anos”, revelou.

O presidente do Sinduscon Rio Grande reforçou a reivindicação da comunidade nortense: “A ligação a seco é de extrema importância para o Brasil. Existe um grande potencial turístico na região, nos municípios de Tavares, Mostardas, uma alta produtividade de arroz e ali, onde está a BR-101, é um corredor natural de Montevidéu até São Paulo”.

O senador Luis Carlos Heinze solicitou maiores dados sobre os benefícios da ligação a seco para a região. “Se tiver viabilidade econômica vamos achar parceiros”, declarou.

O presidente Airton Viñas adiantou que “o Sinduscon se compromete a repassar as informações. A ligação a seco está estimada em R$ 250 milhões e isso é uma merreca para quem for explorar o pedágio”.

Pedágio gera debate

Ao abordar a parceria com a iniciativa privada no projeto da hidrovia na Lagoa Mirim, Heinze aventou a possibilidade até da concessionária Ecosul, responsável pelo pedágio nas estradas federais da região, se habilitar na exploração da hidrovia.

O prefeito do Rio Grande, Fábio Branco, disse que o projeto binacional de aproveitamento da Lagoa Mirim “é importante para fortalecer o porto do Rio Grande”. Destacou a participação do engenheiro João Ivo Souza no estudo técnico, ambiental e econômico do projeto e afirmou que Heinze “pode contar com nosso apoio em tudo que for para melhorar a competitividade do nosso porto”. No entanto, Branco manifestou-se contrário à qualquer tentativa de prorrogação do contrato com a empresa concessionária do pedágio:

– O contrato de pedágio é um crime com Rio Grande. Foi o único contrato no Brasil que teve prorrogação e sou totalmente contra isso.   

Ainda quando deputado estadual, Branco fez vários pronunciamentos na Assembleia Legislativa contra o contrato da Ecosul, uma vez que a concessionária cobra preços considerados exagerados pela população, muito superiores em relação a qualquer ponto do país, sendo que somente no trecho entre Porto Alegre e Rio Grande existem cinco praças de pedágio, encarecendo sobremaneira os fretes até o porto do Rio Grande, além de prejudicar a competitividade dos terminais portuários locais.

O deputado estadual Marcus Vinícius Vieira de Almeida (PP), eleito pela região de Camaquã e representante da Metade Sul na Assembleia, concordou: “O pedágio foi um grande castigo que a Metade Sul sofreu”. O vereador Michel Promove (PP), de Pelotas, observou: “Nossos municípios só vão avançar juntos e nosso maior temor são as praças de pedágio”.

Prefeito criticou construção de porto no Litoral Norte

O Senador Luis Carlos Heinze é um dos maiores incentivadores da construção do porto em Arroio do Sal, no Litoral Norte do estado. Evidentemente que este assunto não passou despercebido no encontro promovido pelo Sindilojas e Associação Comercial dos Varejistas.

Quem primeiro abordou o assunto foi o engenheiro João Acácio de Oliveira Neto, ao comunicar que está atuando no projeto do chamado Porto Meridional. Segundo ele, o porto no Litoral Norte não prejudicará o do Rio Grande. “De jeito nenhum. Vai buscar a carga do Estado que já está fugindo para Santa Catarina”.

João Acácio Neto justificou: “O Rio Grande do Sul tem um PIB 50% maior que o de Santa Catarina. Possui uma costa 50% maior. Santa Catarina tem seis portos marítimos, em breve terá nove, e o Rio Grande do Sul só um. Boa parte da carga gaúcha foge para Santa Catarina e, com isso, se perde aqui oportunidades e empregos. Caxias do Sul compra dois milhões de toneladas de chapas de aço por ano e vejam a estrutura que precisa ser criada para embarcar em Paranaguá e Santos”.

O prefeito Fábio Branco fez questão de deixar clara sua posição e indignação com a construção de um porto no Litoral Norte do Estado. O Chefe do Executivo foi aplaudido, quando disse: “Não concordo e gostaria de entender melhor a viabilidade de um porto em Arroio do Sal. Vão tirar daqui R$ 100 milhões em carga. Quero entender essa lógica. Ao invés de construírem um porto concorrente, por que não investem e valorizam mais o porto do Rio Grande?”. 

O vereador Sargento Rodrigues (PP) apoiou a manifestação de Fábio Branco: “Como rio-grandinos, estamos apavorados com esse porto. Se conseguisse diminuir o valor do pedágio, fortalecer o porto, Rio Grande iria crescer muito mais”.

Pré-candidato a governador

Durante a reunião-almoço, o senador Luis Carlos Heinze anunciou sua pré-candidatura no PP para disputar o Governo do Estado. Disse que nunca perdeu eleição e pediu aos correligionários que “não esquentem a cabeça com pesquisas. O Ibope já errou comigo”.

Sobre alguns comentários de que seria contra Rio Grande (devido ao apoio para a construção do porto em Arroio do Sal), Heinze respondeu: “Pelo amor de Deus!”. E falou de seu apoio ao Município, citando como exemplo, esse projeto de reativação da hidrovia na Lagoa Mirim, que beneficiará o porto local. Afirmou que aquele porto buscará cargas gaúchas que já estão em Santa Catarina, com possibilidade de trazer carga daquele estado, que hoje sai por Itajaí, para Arroio do Sal, conforme o interesse que uma empresa de Chapecó já manifestou.

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