Na última sexta-feira, 9, Rio Grande foi a capital gaúcha da construção civil. Isso porque no Hotel Laghetto aconteceu o III Encontro Estadual da Construção Civil, promovido pelo Sinduscon Rio Grande/RS e o Comitê da Construção Civil – COTECON/FIERGS). O Sinduscon Rio Grande foi o anfitrião do encontro, aberto pelo vice-presidente Evandro Coradi, que saudou a todos os presentes, dentre eles, lideranças de entidades representativas como o Presidente Marcelo Valente da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas de Rio Grande), Presidente Rodrigo Postiglione do Sinduscon Caxias, Assessor Luiz Bossle do Sinduscon RS, Presidente Pedro Amaral do Sinduscon Pelotas, Vice-Presidente Luiz Antônio Messias do Sinduscon São Paulo,  secretários municipais, diretores, associados e patrocinadores do Sinduscon-RG, como a Tintas Killing. Ainda na abertura usou da palavra o Executivo do Cotecon, Fábio Muller. No final, foi realizado um jantar de confraternização no 18º andar hotel com os serviços do restaurante Marco’s, quando o presidente Airton Viñas agradeceu o apoio das lideranças gaúchas neste ano que está chegando ao seu final.

A primeira palestra foi proferida pelo gerente de Operações do Senai RS, Rafael Freire, e pelo coordenador técnico de Operação, Rogério Basso. Eles falaram que o Sul do estado é uma região forte na área da construção e que o Senai foi fundado para atender, especialmente, este setor e também o metal-mecânico. A partir de 2018 o Senai fortaleceu a parceria com os Sinduscon e tem dado apoio institucional aos eventos coordenados também pelo Cotecon. Eles destacaram, ainda, o apoio dado recentemente à Feira de Negócios da Construção, que aconteceu em Pelotas.

Conforme os palestrantes, o Senai tem a seguinte estrutura de atendimento em Educação Profissional: dois Institutos de Inovação, seis Institutos de Tecnologia, uma faculdade, 52 Centros de Formação Profissional, 46 postos de atendimento e 18 unidades móveis. Oferece, ainda, o programa Jovem Aprendiz, que prepara jovens de 14 a 24 anos para o primeiro emprego, que estejam frequentando o ensino regular ou tenham concluído o ensino médio. Eles são contratados pelas empresas contribuintes do Senai por, no máximo, dois anos. A ideia é que o jovem estude normalmente no Sesi e depois faça a qualificação profissional no Senai, como o programa Novos Horizontes.

Moradias sustentáveis

O secretário municipal de Coordenação e Planejamento, Júlio César Touguinha de Almeida, falou na intenção da Prefeitura do Rio Grande qualificar profissionais para construção de moradias sustentáveis, em parceria com o Sinduscon. Segundo ele, “no Rio Grande do Sul a moradia popular sempre foi subsidiada. Por isso, se torna cara. Temos a ideia de fazer a casa popular pré-moldada, com materiais reciclados e coisas desse tipo. Não acredito simplesmente em doar a casa. O beneficiado tem de participar de alguma maneira. Pensamos em preparar a pessoa para a profissão e ele fará sua própria casa em mutirão. Irá trabalhar com pré-moldados, casca de arroz, isopor, telhado com energia solar e, obviamente, vamos precisar de um treinamento de ponta e de parcerias para isso. E nesse projeto a Prefeitura e Furg tem uma área para atender de 8 a 10 mil unidades”. O titular da SMCP sondou a possibilidade da Prefeitura realizar essa parceria com o Sinduscon e o Senai.

As perspectivas da economia

O economista Giovani Baggio, da Unidade de Estudos Econômicos da Fiergs, abordou o “Cenário econômico e perspectivas para 2023 na economia internacional, nacional e regional”. No cenário internacional ele disse que a taxa de inflação elevada foi a maior preocupação em 2022, que registrou a maior inflação na história do Euro e a maior nos Estados Unidos desde 1961. A guerra na Ucrânia foi decisiva para isso, porque os preços da energia fornecida pela Rússia começaram a subir. Resultou no mundo com inflação e juros maiores. A produção industrial caiu e os governos passaram a fornecer incentivos. Com a atividade industrial desaquecida em diversos países, também sofre o mercado de commodities com a redução nos preços, que não voltaram ao mesmo valor de 2019. A inflação segue sendo o grande problema devido ao aumento na taxa de juros. “O preço baixo das commodities faz a inflação do mundo baixar, mas o Brasil é um grande exportador e isso nos prejudica, tanto que teremos crescimento menor que o previsto em 2022 e para 2023 espera-se crescimento 2,7% abaixo da média”, declarou o palestrante, que acrescentou: “Não é um movimento localizado, mas generalizado para diversos países”.

Baggio observou que neste ano “o dólar se valorizou, mas o Real apresentou uma boa performance relativa. O Real valorizou 3,7% em 2022. Entre os motivos, tem as commodities valorizadas. Os fundamentos das contas externas brasileiras indicam que o Real deveria estar mais forte. Porém, o mercado tem respondido às definições dos rumos da economia para os próximos anos. Por enquanto os sinais não são bons e o que segura a moeda é a taxa de juros elevada. A taxa de câmbio no final de 2023 pode atingir R$ 4,75 por 1 dólar, caso o governo seja fiscalmente responsável. Hoje a taxa de juros é de 13,75% pelo Banco Central, com medidas pontuais de corte de impostos e desaceleração das atividades em alguns setores. A expectativa para o primeiro trimestre de 2023 é que tivesse uma redução da taxa, só que com a incerteza do momento, a expectativa é que a taxa de juros se reduza somente no final do ano que vem e feche o ano em 12,75%”.

Giovani Baggio entende que “nosso calcanhar de Aquiles” é o problema fiscal. Após sete anos consecutivos de déficit primário, 2021 foi o ano das contas públicas no positivo, assim como 2022 o será. Nossa dívida ainda é muito elevada em relação a outros países. A dívida bruta do Governo Federal equivalia a 71% do PIB. Toda a incerteza do momento já dá uma expectativa de inflação maior e juros maiores em 2023 e 2024. A confiança dos empresários estava elevada antes das eleições. Agora caiu e já está no nível do pessimismo. O impacto é uma certa paralisia nos investimentos. Cada vez tem menos empresário disposto a investir nos próximos seis meses. Não pretendem investir em capital, nem em trabalho e o emprego é afetado. A grande mensagem é que os primeiros seis meses serão fundamentais para ver como o Governo vai se articular, qual a relação do novo Governo com o Congresso. Também importante a independência do Banco Central. Se o Governo decidir gastar e a inflação subir, os juros irão subir. O mercado esperava que o ministro da Economia fosse outro. Mesmo que Fernando Haddad venha a estar alinhado com o mercado, a gente tem dúvida e acreditamos que o anúncio dele foi uma mensagem negativa. Se o governo colocar o pé no acelerador de gastos vai ter inflação. Se for esse caminho vamos ter estagflação, que é inflação alta com crescimento baixo”.

Quem desejar mais informações da Unidade de Estudos Econômicos da Fiergs sobre as perspectivas da economia, poderá acessar o site: www.fiergs.org.br

Oportunidades com o novo marco legal do saneamento

O vice-presidente do Sinduscon de São Paulo, Luiz Antonio Messias, falou sobre o “Novo marco legal do saneamento básico. Soluções econômicas e oportunidades verdes”. Conforme ele, “esse marco regulatório, que abriria as portas para os investimentos privados, foi muito deturpado pelo monte de penduricalhos que o desfigurou. O marco tem o objetivo de universalizar o saneamento com 90% do esgoto tratado e 99% de água tratada até 2033. Conseguimos aprovar um marco razoável com investimentos em torno de R$ 900 bilhões até 2033. Já tem mais de R$ 70 bilhões contratados em um ano de regulamentação do marco. Nos próximos dez anos, com certeza, serão investidos mais de R$ 700 bilhões, mantida a vontade atual. Os ganhos são de escala e eficiência, agrupamento estruturado de municípios, viabilidade técnica, sustentabilidade econômico-financeira, garantia de atendimento a municípios sem capacidade financeira e universalização”.

Segundo o palestrante é “o maior programa ambiental em andamento no mundo. O Governo também incluiu no marco regulatório os aterros sanitários. Existem mais de 20 mil lixões a céu aberto no Brasil todo. Hoje tem tecnologia para a geração de energia, separação do lixo, compostagem do orgânico. O marco regulatório também será uma oportunidade para as empresas menores. Pode ser feito pelo município sozinho ou através de um consórcio entre os municípios. As grandes capitais não tem mais lixão ou estão em regularização. Um fundo alemão está financiando a implantação de aterros sanitários quase a fundo perdido”.

Também falou sobre o novo marco regulatório do saneamento o prof. Daniel Alássia, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e responsável pelo projeto de capacitação desenvolvido nessa área para o Sinduscon Rio Grande. Ele falou que “o Brasil entrou na política de desenvolvimento sustentável e temos de ter água potável. O Estado não tem capacidade. As ações que mais se valorizaram no Brasil foram as da Sabesp (estatal do saneamento em São Paulo), o que mostra a importância dessa área. É um baita negócio e temos de nos preparar para entrar nele. Vai faltar fábrica de tubulação, fábrica de tanque séptico. Tem a parte de drenagem urbana e muitas oportunidades. Vai ser um novo mercado que se apresentará. Em função dos desafios que vão chegar fomos procurados pelo Sinduscon Rio Grande para montar uma capacitação”.

Somente um Sinduscon em SP

Luiz Antonio Messias falou também que o Sinduscon São Paulo é apenas um sindicato para todo o estado. Possui nove diretorias regionais. A base territorial é o estado inteiro e conta com 16 mil filiados.

O Sinduscon paulista possui a Universidade Sinduscon, que oferece cursos de acordo com as necessidades dos associados e em parceria com instituições de ensino. O associado paga a metade do custo e a procura tem sido grande. Citou como exemplos de cursos: Auditoria técnica no pós entrega da obra, Canteiros sustentáveis, Eficiência energética em edificações residenciais, Orçamento de obras e custos de construção; Revestimento interno e externo, Estruturas de concreto,       

Preocupação com a falta de mão de obra qualificada

Um fato que chamou atenção dos presentes ao Encontro Estadual da Construção foi a dificuldade das empresas conseguirem mão de obra qualificada. O problema não é local, mas acontece no Rio Grande do Sul e no Brasil. Chegaram a falar que “é quase um serviço medieval”. Um dos palestrantes observou: “As grandes construtoras não tem mais pedreiro tradicional. É o montador de bloco e não tem essa mão de obra no Rio Grande do Sul. Vem de fora”.

Por isso os representantes do Senai disseram que aquela instituição é vetor para fomentar a inovação, as novas tecnologias. O trabalhador precisa enxergar o valor agregado que pode beneficiá-lo em sua profissão, citando como exemplo prático que poucos se interessam pelo curso de eletricista. Acham pouco cobrar R$ 25 para instalar uma tomada, mas não se dão conta que hoje, devido a tecnologia, quase tudo precisa de tomada e, de repente, numa obra o profissional pode ter de instalar 25 tomadas e seu lucro se tornará bastante expressivo.

O Senai oferece para a construção civil, em Porto Alegre, os cursos de Eletricista Predial e Edificador Predial, Carpinteiro de Estruturas, Telhas e Formas. São gratuitos, com 160, 180 e 200 horas/aula. Tem o Programa de Qualificação Profissional para a Indústria Gaúcha com 1.500 pessoas formadas no presente ano.

Existe um grande contigente de desempregados, porque não estão qualificados. Então, a ideia é qualificar esse pessoal, com parceria da Unisind (Unidade de Desenvolvimento Sindical da Fiergs), escolas do Senai e sindicatos, conforme a demanda de cada região. Foi informado que em Rio Grande existem dois cursos em andamento, gratuitos, promovidos em parceria com o Sinduscon: Pedreiro de Alvenaria e Pintor de Alvenaria. Uma boa notícia é que a partir de agora será possível oferecer passagem gratuita aos participantes. Outros cursos que existem, ministrados pelo Senai, e com possibilidades de serem realizados em parceria, são os de Eletricista Predial, Pedreiro de Revestimento, Pintor de Obras Imobiliárias, Mestre de Obras e Pedreiro Revestidor.

“Apagão” de alunos

O prof. Daniel Alássia disse no Encontro da Construção Civil que também está havendo um “Apagão de alunos” nas faculdades brasileiras. “Falta mão de obra, neste momento, também na Engenharia Civil. Tenho na Universidade de Santa Maria menos de 40% dos alunos. Minha turma está hoje com 15, 17 alunos e temos um ‘apagão’ dos alunos que estudam online. Existe uma baixa significativa de alunos e também de quem faz mestrado ou doutorado. Isso quer dizer que irá faltar pessoal qualificado nos próximos anos. Algo terá de ser feito. Ao mesmo tempo, existe uma expressiva quantidade de gente trabalhando em casa para empresas dos Estados Unidos que vocês não tem noção”.

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